Maguila, Ranca bife e Ana encontraram dois mortos. O piloto e uma funcionária de bordo. Faltavam os dois "pessoas". Já estava quase escurecendo. Eles estavam feridos e cansados.
-Vamo voltá Maguila...já vai escurecer.
-Concordo. Disse Ana. Vamos levar água e procurar um lugar seguro para passar a noite.
É bão memo...já tô é com fome.
-Esse aí só pensa em comê...num sei como é que ele consegue.
As duas riem e o pugilista volta resmungando.
Eles fazem uma fogueira e ficam em volta. Ana coloca talas nas pernas fraturadas. Maguila trouxe o que pode dos destroços do avião e comia alguns biscoitos.
Uma semana depois....
Com tudo o que conseguiram, improvisaram vasilhames para a água, alguns utencílios e dormiam numa parte do avião. Era a parte da frente...pequeno, mas todos se acomodavam ali a noite e ficavam protegidos da chuva e de algum animal que por ventura pudesse aparecer. Havia já alguma intimidade entre eles. Ana, virou Aninha. Maguila, virou Mago, Alcineide, a Ranca bife, agora era chamada de alcinha. Só o "pessoa" Continuou pessoa mesmo.
Logo, os fraturados já podiam andar pela ilha. Uma tarde, chega alcinha com algo, correndo e gritando:
_Gente...olha só o que eu achei!
Era o violão do rei, faltavam duas cordas, que logo foram improvisadas com tripa de lebre selvagem. tanto insistiram, que o rei resolveu cantar para eles:
"Nossa senhora me dê a mão..."
-Oxi...num dá pá cantar outra não? Nóis já tamo lascado e cê ainda quer dá a mão pra nossa senhora? Dá a sua...eu tô fora! -Cê tá agourando nóis!
-Ha, ha,ha,ha! Ria a magestade, o rei, descontraidamente.
-Você é uma figura, mago...só você mesmo pra vir com essa!
-Eu posso ser figura e qualquer bagui que cê quisé, mas tô vivo...num vem me gorá não!
-Gente...alguém viu a Alcinha por aí? Ela está sumida desde cedo. Diz ninha, com ar de preocupada.
-É verdade, já reparei que ela tem desaparecido por horas, todos os dias. O queserá que aconteceu com ela?
-Vamos descobrir...você vem, Pessoa?
-Claro...vamos!
Quieta! Sussega, muié! Num dá pra fazê unha assim...cê num para quieta! -Aí...borrou tudo ó...minha acetona tá acabando...vê se não borra essa heim! Põe a mão aqui...aqui! Põe aqui e fica quieta!
Os três pararam atrás de uma árvore e ficaram quietos, observando Alcinha, falando com uma Gorila, como se fosse gente.
-Saco! Dá pra ficar quita, manuela? Assim num dá...eu vô embora, cê é muito teimosa! Num vô mais pintar sua unha.
Ouviu gargalhadas e se virou rapidamente. Os três riam sem parar.
-Manuela deu um salto e avançou em direção aos très, furiosa.
-Manu...volta aqui! Quieta, teimosa! Amigo...amigo...
Alcinha fez as apresentações.
-Pó passá a mão nela...ela é boazinha...morde não.
E logo, havia mais alguém em volta da fogueira, ouvindo música ao vivo e dormindo no espaço apertado do que sobrara do avião.
-ô bicha fedorenta! Reclamava o pugilista. Sai pra lá, manuela, senão vô dá porrada!
Por mais que eles a colocassem para fora, de nada adiantava...ela sempre entrava de novo.
Todos dormiam muito mal por causa de Manuela, mas ela não queria saber de seu bando e tinha um chamego especial com o pugilista. Trazia frutas e jogava em cima dele, sem muita delicadeza, mas era seu modo de agradá-lo. Isso, fazia com que todos rissem até chorar. E toda vez que Manuela fazia isso, o rei cantava:
"..Eu te amo...eu te amo...eu te amo..."
-Deixe de graça, caba gozadô! Cheio de piadinha, né?
Quase um mês depois, eles ainda estavam lá...só se ouvia falar naquele acidente. O mundo já acreditava que estavam todos mortos.
O rei flava e gesticulava, andando de lá pra cá...
-Eitcha...agora foi que ele pirou de veiz, coitchado!
-Com quem ele está falando? Pergunta Aninha.
-Cas pranta...num sabe que esse maluco conversa cas prantinha? Trem doidio.
- E será que elas fala com ele também? Pergunta Alcinha, esperando resposta que lhe compense.
-vai sabê... retruca Maguila, rodando o dedo indicador em volta da orelha, insinuando que o rei é louco.
-Vô chamar ele pro rango, antes que ele coma as pranta, aí num vai ter com quem conversá.
- E aí, magestade? Desculpa interrompê a cunversa dos ceis aí, mas tá na hora do rango...vamo?
-Alá..olha! Tá ouvindo? Um avião...corre, vamo lá!
Era um amontoado de reporteres, imprensa pra tudo que era lado...e Alcinha só chorava.
Durante o resgate, uma gorila de unhas vermelhas corria lá embaixo, tentando agarrar a sombra do helicóptero e urrando...Alcinha chorava. Pessoa a abraçou carinhosamente.
-Vamos...aqui é o lugar dela!
-Num vô...para esse troço que eu quero descer!
Agora, quem quiser fazer unhas com a "Ranca- bife" tem que pegar um helicóptero e ir até a ilha. Não é pra qualquer um não...mas freguês é o que não falta. Aliás, aquela "Francezinha" da Uitinei Riuston , foi ela quem fez. Quando não tem clientes, ela faz as de Manuela, cantando:
"Endai aaiiii...uiu auieis lovi iu...uuuuuu! iuuuuuuuuuu!!!!
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