carro véio!

Lá pra mir novecentos e setenta
Apareceu um fuska em casa
O bicho era todo pomposo...
Só fartava batê asa...

Era uma lambeção em vorta daquele carro
Num andava nem na lama...tinha inté para- raio!
Meu irmão, cheio de frescura:- Cuidado cá pintura!
Num bota as mão suja no vrido...Num quero arranhadura!

Virô xodó lá de casa
Todo mundo queria andá...
Óia o ronco do bicho...nem precisa acelerá!

Mas o tempo foi passando
E o bichim foi decaindo
O ronco foi engrossando...
A potência foi sumindo!

Aquele carro e meu irmão
parecia inté pirraça...
Os dois é que era irmão...
Ficaram fiofó e carça!

De carrão, ele virou jegue...
Um armazém ambulante.
Ovo, fruta, verdura...
cera, cloro...amaciante!

Um dia empacou na rua
bem no meio da marginal...
Os otros passava e gritava:
-Isso é um carro, ou um animal?

Joga essa merda fora
Já deu o que tinha que dá...
Compra uma bicicreta nova
E sai do meio pra nóis passá!

meu irmão entristecido
Deu razão pra multidão:
-É, meu amigo sofrido...
Com você não dá mais não!

saltou e entrou numa agença
E escolheu novo modelo...
O fusca lá fora chorou,
Embaçando o vidro do espelho.

-Não me deixa-disse o coitado...
Não se desfaça de mim.
Se num sirvo mais como carro...
Me usa como xaxim!

Carreguei sua mãe, namorada e esposa...
Seus filhos, desde o hospital...
Te sustentei no desemprego...
Comigo cê foi...bem ou mal!

Diz meu irmão que escutou
O "fiofó" dele falar...
Com tantas que já vi nessa vida...
Eu que num vô duvidá!

Encrementaram o bichinho.
Não vende, num troca, nem dá.
Mei irmão já foi...já passou.
E o fuska inda tá lá!

(essa história não é verdadeira)...é só história.

Rosana Lazar..."Tava sem sono"


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