Saudade também têm gosto.

Vejo lá no passado, num tempo quase encantado, se é que não era "puro encanto", um amor puro, quase santo...Daqueles que devotamos.
As pernas vacilavam, as mãos suavam,éca! - Moscas no estômago?
A boca ficava seca...Passava a língua para umedecer os lábios. Esquecia as frases ensaiadas...Na mente, um texto, eu...[personagem] de mim, tentando decorar conversas inteligentes de um filme onde eu era a Sofia e a
Loren, separadas...Pode isso? -Era a Demmie e era a Moore...e te amava além da vida, te queria de ambos os lados...o terno e o eterno!
Ouvir sua voz, me fazia tremer...Eu ficava burra, ou muda...Afinal, onde teriam ido as palavras que ensaiei? -Por que elas não me chegavam?
Bastava um mergulhinho de nada na melancolia do teu olhar e pronto. Lá estava eu, entregue...Perdida, muda e deliciosamente "vazia". E você...ah, você. Umedecia minha boca, alagava a alma. O universo parava pra ver. O planeta não respirava, tão mudo e burro como eu. Entregue, vacilante...com as mãos suando, matando o personagem de mim, que tanto queria te dizer...
-Para quê falar?
Hoje, eu te senti lá no passado, num tempo todo encantado e sinto queimar no lábios, os beijos... [ladrões de palavras]. Cheguei a sentir teu cheiro, o toque das suas mãos e vi, na melancolia do teu olhar, a mesma busca e um brilho que emudecia, enquanto as pernas vacilavam...Voltei a ser [por um instante], vazia. Deliciosamente vazia. Saudade, também têm gosto.

Rosana lazzar 23 de janeiro de 2009

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